A primeira aula era teórica de artes e ela falava da origem da arte de natureza morta, pinturas de objetos parados e pediu pra que nos comprássemos uma nova tela pra fazer mais que um cesto de fruta mas aquilo que chamou que vem do coração. Como exemplo ela pegou meu quadro e disse que eu pintara enquanto sonhava e me distraia da aula pra pensar no que realmente me inspirava. Com suas ideias mirabolantes, disse que começássemos com um pequeno vaso de flores e que depois deixássemos nossa imaginação e coração nos guiar. Fiquei sem graça pelo comentário e a sala soltou um ''OOOHHH'' diante da minha "arte". Na troca de aula, Daniel veio conversar comigo e nossa o corte estava um charme, apesar das linhas penduradas. No começo da aula foi rodeado de meninas e alguns nerds, fans de artes marciais e coisa parecida, nada de um dos valentões levantarem pra enfrenta-lo numa revanche ou algo parecido. João por sua vez, deveria estar em sua casa com dor na face, pensando em uma maneira de dar o troco talvez.
Eu o olhava com o olhar que olhava os meninos novos da escola com grande frieza e nervosismo, ele por sua vez não notou e eu fui logo dizendo que não liguei pra ele porque estava muito cansada e de tantas explicações, Daniel me ignorou e se juntou comigo daquele jeito dele de me fazer rir do nada, sempre a me impressionar, fingiu começar a fazer a lição de matemática e foi logo perguntando da Carol, se achava que tinha chances com ela etc.
De primeira, se fosse ontem, antes da briga, certamente eu diria que não, mas depois de tudo que fiquei sabendo da Carol, e da valentia vista no Daniel, achei os dois um belo par, só que o Daniel iria precisar de um pouco mais de grana e uns quilinhos a mais. Não falei a parte da grana, mas ele riu ao saber dos quilinhos que teria que ganhar. Pegou um pacote de chicletes sem açúcar então brinquei: "daqui por diante só os bem açucarados e se der com chocolate e ingredientes complementares, muuuuuuuito gordurosos!" Ele riu de novo, e pra me fazer riu mais pegou um potinho com bolo de chocolate da mãe dele e começou a se empanturrar no meio da sala, quase que não me da um pedaço, consegui só raspar o que havia no pote, e o professor ficou muito bravo, não pela bagunça mas por não ter deixado pra ele.
No intervalo nos distanciamos, muitas meninas rodiaram o Daniel gatão, muitas tocaram sem seus pontos e ele fazia umas graças, já eu estava quase no mesmo nível de popularidade, quando a Carol me apresentava todos aqueles machos que curtem rock e eu nem sabia. Todos eles me olharam como olharam pra Carol, com esperanças de algo mais que amizade, pelo menos foi o que eu senti. Tirei o cabelo do rosto ainda umido e de longe vi o Marcos me observando tomando energético caro se recusando a compartilhar com os amigos, para provoca-lo mexi no cabelo de um dos meninos e fiz um carinho no rosto dele, Marcos se retirou do pátio e falou grosso com uma de suas amigas, eu ri pra dentro e quando tocou o sinal eu só entrei depois que o professor estava na sala. Meu msn foi repassado a todos e eles mais alguns através de Bluetooth junto com meu n° do celular. Um deles era o garoto que me avisava da revanche, ele ficava mandando mensagens toscas pra que eu levasse bronca ou algo assim, mas estava no silencioso, e eu as respondi de maneira que quem levou a bronca foi ele. A ultima mensagem foi a seguinte: "Bicha má!" E foi convidado a se retirar da sala.
Mas recebi outra muito suspeita, era do Marcos :"Preciso falar com vc, me encontra na saída, naquele lugar"
"AQUELE LUGAR", era o local onde a gente conversava, bem atrás da escola entre um arbusto e um poste, la era o local onde eu perdoava todos os pecados dele e a gente voltava a comete-los ainda piores. Eu decidi não ir, mas eu tinha que passar por la pra ir pra casa, Carol foi pra um lado e Daniel foi levar uma garota ate o ponto de onibus. Eu vi a figura do grandao, encostado no poste e tentei passar o mais rápido possível mas ele me agarrou forte no braço e não deixou que eu passasse antes de falar com ele. Eu vi espuma no canto dos seus lábios e lágrimas oprimidas em seus olhos e escutei tudo o que ele tinha pra falar, bem forçada. Ele tentou me beijar a força e me machucou. Minha pele branca ficou roxa nos pulsos então veio Daniel correndo parando o transito e empurrando Marcos com sua força de reserva, dizendo pra me soltar e diversas outras coisas, eu entrei no meio dos dois e implorei pela paz mundial, as meninas olhavam boquiabertas do outro lado da rua, mas não houve nada, um fez ameaças ao outro e o Marcos logo foi embora com o rabo entre as pernas.
Me abraçando, ele partiu o coração de todas as meninas que o rodeavam e me fez lembrar do meu jeito natural e inseguro de ser. Logo começou a chover e ele me envolveu em sua jaqueta de couro e me levou ate o portão de um mercadinho, já que a chuva estava aumentando. Eu fiquei calada a viagem inteira e ele também, até que ele não aguentou aquele grito de silencio:
- Precisava mesmo de um fortão e uma loira gostosa pra gente voltar a se falar?
- O que como assim?
- Você sabe, não retornou meus telefonemas, não procurou saber como estava... Nem percebeu que era pra mim estar na suspensão!
- Não é isso, eu andei muito nervosa depois daquele show, uma dor de cabeça enorme eu não tive como pensar em você...Ok, eu sou uma egoísta compulsiva mas tem dias que você tem que evitar as pessoas para que elas possam te aceitar, minha mãe uma vez disse isso.
- Não sou um carente idiota precisando de alguém que me proteja ou que esteja comigo sempre mas, eu preciso de opiniões sinceras que só você pode dar. Você não poderia enfrentar aqueles caras, mas eu não sou um coitado, como você já viu, eu escondo minhas habilidades e as uso quando necessário.
- Chega de discursos ridiculos você esta parecendo o Marcos!
Joguei o casaco dele no colo e sai o mais rapido que pude, arrastando meu material pelo chão ele puxou, eu cai no seu colo. Eu vi os olhos dele brilhando perto dos meus, a respiraçao, o coração. Do angulo eu via poucos pelos timidos brotando em seu queixo e quao rosa sao seus labios, nao resisti, eu o beijei. Ele retribuiu como se tivesse planejado aquele momento a anos, pra falar a verdade, estava na hora daquilo acontecer mesmo. Apos longos tres segundos, ele me olhou e me disse da forma mais fria que poderia ser:
- Faça o que quiser comigo, me chama de qualquer coisa, mas nao me compare aquele idiota.
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